Pode se dizer que a agricultura foi uma das maiores conquistas da humanidade. No começo do século 20, a agricultura predominante era aquela com baixa produção, com uma mão de obra estritamente familiar, com a utilização de tração animal, a utilização de instrumentos manuais e com toda a produção para o consumo próprio, caracterizando assim a agricultura 1.0.
Para atender as demandas por alimento resultantes do crescimento populacional e aumento da população urbana era necessário que os processos de produção agrícola também evoluíssem. Nas décadas de 1950 e 1960, na agricultura brasileira predominava o trabalho braçal, sem tecnologia e informação, e menos de 2% das propriedades contavam com mecanização agrícola.
Como consequência, havia baixa produção e baixa produtividade por hectare, e práticas inadequadas causaram severos impactos ambientas. As propriedades não produziam o suficiente para atender a demanda interna e essa deficiência gerava problemas, pois o Brasil passava por um momento de industrialização, rodoviarização, crescimento das cidades e crescimento populacional com maior poder aquisitivo, e o contexto era de demanda por alimentos (Embrapa, 2020b).
Veja também: O que é agricultura regenerativa?
Na minha opinião, podemos destacar o trabalho da equipe, e também do maquinário. Em alguns momentos da Safra, o produtor precisa ter um grande número de pessoas no campo, onde fica difícil ter controle de todas as ações que estão acontecendo na lavoura. Inclusive, é ainda mais difícil saber o trabalho feito pelas máquinas, onde elas passaram, se uma mesma aplicação foi realizada duas vezes ou não e etc. Com o avanço da tecnologia, os produtos para o campo estão cada vez mais completos, conseguindo atender o que o produtor precisa, de forma rápida e eficaz, solucionando problemas deste tipo com simplicidade.
As várias inovações tecnológicas ocorridas nessa época é o que chamamos de revolução verde, com a qual foi possível melhorar a produtividade, o sistema de produção, a utilização dos insumos e fazer intenso uso de máquinas; todas essas tecnologias caracterizaram a agricultura 2.0.
Na década de 1970, para consolidar as cadeias produtivas e tornar o Cerrado produtivo, houve a criação da Embrapa, em 1973, empresa de pesquisa que tinha como objetivo garantir a segurança alimentar. As respostas surgiram depois de anos de pesquisas realizadas pela Embrapa, por universidades, por instituições estaduais de pesquisa agropecuária e, mais tarde, pela iniciativa privada. Surgiram novos processos agropecuários, melhoramento genético e cultivares mais adaptadas às condições de solo e clima do Brasil. As pesquisas apontaram os caminhos para otimizar o uso de corretivos e de fertilizantes, permitindo o plantio nos solos de Cerrados, até então considerados improdutivos (Embrapa, 2020b). Dessa forma, a cultura de subsistência cedeu lugar aos sistemas integrados e rotacionados de produção, que impulsionados pela modernização ganharam notoriedade. Os exemplos são o sistema de plantio direto, o zoneamento de riscos climáticos, o manejo de pragas e de plantas daninhas, a mecanização e a integração da lavoura com a pecuária, que se tornaram tecnologias de grande impacto. Esses são resultados diretamente relacionados com investimento em pesquisa, extensão rural, políticas públicas e empreendedorismo (Embrapa, 2020b). A partir de então, as tecnologias evoluíram de um modo inimaginável para a época, com máquinas e implementos para aumentar a eficiência das atividades do campo, uma tendência que ficou conhecida como agricultura de precisão, inaugurando a agricultura 3.0 (Massruhá et al., 2020).
A agricultura digital facilita a coleta e o gerenciamento dos dados, por meio das tecnologias de agricultura de precisão, da internet das coisas e da telemática, com o consequente armazenamento em nuvem. A coleta e armazenagem de dados em nuvem são processos que integram o agro 4.0. O próximo passo é a utilização de ferramentas como a inteligência artificial no processamento dos dados e a extração de conhecimento relevante deles, que não só ajudem na tomada de decisão na gestão da propriedade e da produção como na automação das operações no campo (Saiz-Rubio; Rovira-Más, 2020). Essa iniciativa de utilizar as tecnologias digitais na conversão dos dados coletados em conhecimento, que contribuirá para auxiliar e melhorar a tomada de decisões em áreas de produção na fazenda e ao longo da cadeia de valor, inicia a mudança da agricultura de precisão para a agricultura de decisão (Shepherd et al., 2018).
O uso de inteligência artificial e de robôs agrícolas autônomos para atuar na agricultura leva a uma nova fase, que é a agricultura 5.0 (Tolentino, 2022).
A agricultura 5.0 é a mais recente geração de modelos trabalho e de produção agrícola, como serviços de mapeamento de áreas por satélite, equipamentos e veículos conectados remotamente, uso de drones para pulverizações, monitoramento de pragas e uso de sensores conectados a plantas que possam medir temperatura e umidade (Barbosa et al., 2022).
O diferencial da agricultura 5.0 está na tomada de decisão, que será cada vez mais atribuída às máquinas, o que proporciona maior precisão e produtividade. Essa agricultura é marcada pelo uso da inteligência artificial, biotecnologia e análise de dados da fazenda. Isso aumenta a precisão da automação, na sua produtividade e a na sua performance. A agricultura 5.0 chega para contribuir na estruturação de quatro pilares principais:
As novas tecnologias vêm para apoiar a gestão e tomada de decisão, agregar valor à produção, otimizar o uso de insumos e recursos naturais, reduzir custo e gerar ganhos de eficiência, produtividade e rentabilidade. No entanto, para o agricultor prevalecer na agricultura 5.0 isso dependerá de algumas estruturações, tais como a conectividade rural Duarte (2020), a capacitação de mão de obra e a transferência de tecnologia (Agro 5.0…, 2021), pois falar sobre agricultura 5.0 não é apenas discutir a respeito do uso de novas tecnologias, mas promover a transferência e o uso das tecnologias digitais e integração desses processos para a sustentabilidade do agronegócio. Segundo Silva et al. (2013), não se pode entender que a transferência de tecnologia seja apenas um simples repasse de conhecimentos, mas um processo que começa com a identificação da tecnologia a partir da necessidade do público; em seguida, passa pela escolha dos métodos de transferência adequados ao perfil do receptor terminando pela adoção da tecnologia pelo interessado. Segundo esse autor, o processo de transferência de tecnologia somente se completa quando o conhecimento adquirido é adotado, transformando-se em inovação no campo.
// Sinval Resende Lopes – Doutor em Inovação Tecnológica.
EMBRAPA. Trajetória da agricultura brasileira. Brasília, DF, 2020b. Disponível em: <https://www. embrapa.br/visao/trajetoria-da-agricultura-brasileira>. Acesso em: 29 maio 2022.
AGRO 5.0: 5 tecnologias que vão fazer a diferença no campo. 2021. Disponível em: <https://coperaguas.com.br/blog/2021/01/19/agro-5-0-tecnologias-fazem-a-diferenca-no-campo/>. Acesso em: 22 jun. 2022.
BARBOSA, J. A.; FREITAS, V. M. S.; VIDOTTO, L. H. B.; SCHLEDER, ̧G. R.; OLIVEIRA, R. A. G. de; ROCHA, J. F. da; KUBOTA, L. T.; VIEIRA, L. C. S.; TOLENTINO, H. C. N.; NECKEL, I. T.; GOBBI, A. L.; SANTHIAGO, M.; LIMA, R. S. Biocompatible wearable electrodes on leaves toward the on-site monitoring of water loss from plants. ACS Applied Materials & Interfaces, v. 14, p. 22989-23001, 2022.
DUARTE, D. A. Conexão de internet por luz pode antecipar Agro 5.0 no Brasil. 2020. Disponível em: <https://agevolution.canalrural.com.br/conexao-por-luz-pode-acelerar-a-internet-no-campo/>. Acesso em: 22 jun. 2022.
MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A.; LUCHIARI JÚNIOR, A.; EVANGELISTA, S. R. M. A transformação digital no campo rumo à agricultura sustentável e inteligente. In: MASSRUHÁ, S. M. F. S.; LEITE, M. A. de A.; OLIVEIRA, S. R. de M.; MEIRA, C. A. A.; LUCHIARI JUNIOR, A.; BOLFE, E. L. (ed.). Agricultura digital: pesquisa, desenvolvimento e inovação nas cadeias produtivas. Brasília, DF: Embrapa, 2020. p. 20-45.
SAIZ-RUBIO, V.; ROVIRA-MÁS, F. From smart farming towards agriculture 5.0: a review on crop data management. Agronomy, v. 10, n. 2, p. 1-21, 2020.
SHEPHERD, M.; TURNER, J. A.; SMALL, B.; WHEELER, D. Priorities for science to overcome hurdles thwarting the full promise of the ‘digital agriculture’ revolution. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 100, n. 14, p. 5083-5092, 2018.
SILVA, C. da; VIEIRA JÚNIOR, M.; LUCATO, W. C. Proposta de procedimento de transferência de tecnologia. Exacta, v. 11, n. 1, p. 115-122, 2013. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=81027458010>. Acesso em: 20 jun. 2022.
TOLENTINO, H. C. N.; NECKEL, I. T.; GOBBI, A. L.; SANTHIAGO, M.; LIMA, R. S. Biocompatible wearable electrodes on leaves toward the on-site monitoring of water loss from plants. ACS Applied Materials & Interfaces, v. 14, p. 22989-23001, 2022.
Buscamos fazer com que as tecnologias e os conhecimentos gerados pela ciência efetivamente se constituam em inovação e gerem impacto. Por isso, trabalhamos com parceiros públicos e privados e apostamos em inovação aberta para impulsionar o desenvolvimento social, econômico e estratégico da agropecuária.
Nosso sistema produtivo leva em consideração a preservação da entomofauna, contribui para a agricultura regenerativa e com a descarbonização da economia.